A amarga história da doce Edivânia
Nesse texto, leia o que nossa voluntária Kammyla Assunção escreveu sobre a sua experiência com a dona Edivânia, nos bastidores da sua história.
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Dentro de uma barraca verde e amarela, que ganhara do tenente do exército, estava a segunda pessoa com quem conversamos no domingo 23 de abril, na praça da sé, Edivânia Silva.
Com a voz doce e tranquila, Edivânia dava bom dia gentilmente para todos que ali passavam; a cumprimentamos, sentamos ao redor de sua barraca e a perguntamos se ela poderia contar um pouco de sua história. Então, com o sorriso meio apagado e com a voz bem baixa, ela começou a nos contar um pouco de sua jornada.
Nascida em Pernambuco, Edivânia nos contou que veio para São Paulo, para trabalhar como atriz e dançarina nos estatutos e boates, ela amava dançar jazz, e hoje já não consegue mais por ficar muito tempo sentada. Trabalhou durante 20 anos, até ser interrompida.
– O conselho tutelar que interrompeu meu trabalho, pelo fato de eu ser mãe e ter filho.
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Ainda nos contou que teve que provar sua conduta para se diferenciar das outras que acabaram se corrompendo no meio do caminho.
Perguntamos a ela quantos anos tem seu filho e se ela o vê com frequência, e com um tom de comicidade Edivânia nos contou da confusão que aconteceu e que acabou a afastando do filho.
Ele tem 24 anos e ela não o via há um ano e sete meses, pois ficou internada por um ano e meio em um hospital de freira por ter sido confundida com outra pessoa, chamada Marineide Dias.
– Não era eu, nem sei quem é ela, mas depois que fecharam o hospital, fiquei sabendo que ela morreu.
Edivânia contando sobre a pancada que levou na cabeça e que estragou seus dentes.Quando questionada sobre a dificuldade de morar na rua, Edivânia rapidamente respondeu que lidar com as pessoas de lá é fácil, basta ser compreensivo, honesto, sincero e leal, mas o mais difícil é o vício.
– O vício de quem não consegue ter força para lutar e sobreviver, o torna decadente, aí a pessoa acaba cometendo crimes. Eu não tenho vício.
Edivânia nos revelou o motivo do seu problema no olho, ela estava sentada conversando e bebendo, e de repente veio um menino correndo e deu uma pancada em cada lado de sua cabeça, foi assim que ela foi parar no hospital e acabou sendo confundida com a outra paciente. Mas Edivânia disse que não é comum acontecer essas coisas por lá.
– Geralmente, só acontece com quem faz por merecer.
Quando nossa conversa estava chegando quase ao fim, Edivânia nos contou que sempre fica com sua barraca no mesmo lugar, pois sair é perigoso e ela se sente mais protegida ali.
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– Aqui me sinto segura, um cuida do outro
Por fim, a atriz e dançarina nos disse que ainda tem um sonho, que é o de fazer justiça.
– Direitos iguais para todo mundo
A conversa durou mais ou menos 15 minutos, Edivânia manteve o mesmo tom, do começo ao fim da conversa, sempre tranquila, a agradecemos por ter compartilhado sua história conosco e a desejamos um ótimo dia.
Texto escrito por Kammyla Assumpção contando a sua primeira experiência como voluntária do SP Invisível.